quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A eleição do deboche

Estamos as vésperas de mais um pleito eleitoral. Em meio as noticias da política, hoje li uma publicada na Folha de São Paulo que me deixou pensativa. O ministro da Cultura Juca Ferreira andou criticando a candidatura do comediante Tiririca. É verdade que esta eleição reserva algumas curiosidades em relação à lista de candidatos. Temos entre os postulantes ex-jogadores de futebol, ex-boxeadores, cantores, mulheres com apelidos de frutas, travestis e comediantes de TV, que usam toda sua irreverência na hora de pediro voto de confiança” do eleitor brasileiro. Todos exercendo o seu direito à liberdade de escolha e expressão, assegurado na nossa Constituição.

Em uma de suas inserções no programa eleitoral da TV, Tiririca diz "O que é que faz um deputado federal?". — Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto. Vote no Tiririca, pior do quenão ficacompleta. O ministro Juca tem todo o direito de expressar sua opinião em relação ao deboche do candidato do PR em São Paulo. Entretanto, não seria esse um comentário modesto e isolado quando direcionado apenas ao Tiririca? Somente ele estaria debochando da Democracia Brasileira?

Ao observar figuras populares como Tiririca caminhando para uma experiência política, muitos se chocam e seguem a opinião do ministro, achando essa manifestação um completo absurdo. Porém, seria interessante analisarmos o comportamento do eleitor. Os que criticam candidatos oriundos dos palcos, da TV, do esporte, ao mesmo tempo admitem políticos corruptos sendo novamente conduzidos a mais um pleito, sem o menor traço de constrangimento. Não defendo a candidatura de gente despreparada. Cada um no seu quadrado. Penso que o individuo para ser conduzido a qualquer cargo público deve ter capacitação técnica e ter reputação limpa. Ter caráter, ser honesto, justo e ter boas propostas e experiência no setor público. Vamos concordar que está difícil encontrarmos políticos com essas referencias, mas sou otimista e penso que ainda existem alguns poucos. Reflito sobre o que leva as pessoas do meio artístico ou esportivo terem a aspiração  de entrar para o sistema publico, e deixo o leitor a vontade para tirar suas próprias conclusões sobre o cenário. Prefiro voltar a falar sobre os corruptos.

O Estado do Mato Grosso tem o maior índice de indecisos do Brasil. Por , 32% dos eleitores (de acordo com pesquisas divulgadas no final de agosto) ainda  não sabe em quem votar. A causa: os escândalos dos últimos meses envolvendo políticos da Região acusados entre outros crimes, de desvio de verbas públicas, corrupção e formação de quadrilha. No Estado do Paraná, a Polícia Federal continua investigando envolvimento de políticos em esquema de desvio e mau uso da verba pública, formação de quadrilha, e tantos outros crimes que dariam para preencher a página. Em Brasília, o governo local está atolado em escândalos e denuncias. No Senado e na Câmara Federal, nossos digníssimos deputados e senadores fazem o que bem entendem, com nosso aval, pois os elegemos e nada fazemos para tirar-lhes o poder. A maioria dos envolvidos em algum tipo de escândalo político nos últimos anos apresenta-se novamente ao eleitorado. O eleitor, sem memória e manipulado pelo sistema, vai votar e eleger novamente esses debochados.

Citando poucos exemplos para ilustrar, a pergunta que não quer calar: Quem debocha mais da Democracia? Aqueles políticos corruptos e inescrupulosos que  subestimam nossa inteligência e colocam em cheque nossa dignidade todos os dias, ou os comediantes que satirizam o pleito, alguns até com a intenção de chamar a atenção para a falência do sistema?

Estariam debochando da Democracia aqueles que manipulam pesquisas eleitorais para dirigir o voto do eleitorado? E aqueles que perpetuam no poder. As famílias “tradicionais” do sistema político partidário brasileiro, onde o poder passa de pai para filho, sempre com o aval do eleitor, debocham ou não da Democracia?

E os políticos que se afastam dos cargos sempre queescândalos envolvendo seus nomes para escapar da cassação, e depois voltam com discurso romântico de que são sérios e merecem continuar. Continuar o que? A debochar?

E aqueles que maquiam candidaturas. Aqueles que simplesmente se transformam em cordeiros, quando na verdade são lobos da ditadura, e disfarçados encontram apoio no populismo de quem tem voto, mas não tem competência? Isso não é um deboche?

Penso que certos políticos debocham diariamente, não da Democracia, mas do povo brasileiro. Precisamos dizer não ao deboche. Precisamos fazer nossa parte não elegendo gente despreparada, mal intencionada, que debocha da ignorância da massa eleitora. Precisamos aprender a votar e a dar poder para quem é  decente. Precisamos ter memória e lembrar da historia do Brasil, um País que é construído com nossas decisões, com nossa esperança. Precisamos aprender o que é Democracia, e principalmente, a exercê-la.

Lendo o livroMentes Perigosas” (editora Fontanar), da médica pós-graduada em psiquiatria Ana Beatriz Barbosa Silva, começo a pensar sobre onde estão concentrados os psicopatas da sociedade brasileira. Gente desprovida de consciência, de compaixão. Mentirosos frios e cruéis que manipulam e desprezam os sentimentos alheios. No livro a autora não trata de política. A intenção da médica é descrever o perfil do psicopata e ensinar como identificá-lo. Após prestar muita atenção na literatura, digo que podemos identificar muitos psicopatas no atual cenário político brasileiro. E isso é preocupante. Precisamos acordar e deixar o romantismo de lado quando o assunto é política. Estamos caminhando para um futuro incerto, que poderá ser conduzido por verdadeiros psicopatas que debocham diariamente da nossa fragilidade intelectual. Pense nisso, e, por favor, não vote nos debochados.

Elaine Maieski

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