segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Os filhos do tráfico

Dia destes acompanhei pela TV uma cena que me chocou: uma mãe desce o morro do Alemão, no Rio de Janeiro, e entrega o filho traficante a polícia. Tanto as autoridades, quanto a mídia comentaram sobre a atitude daquela mãe. Uns diziam que o ato foi exemplar e que outras mães deveriam seguir o exemplo. Outros se emocionaram, e teve até quem dissesse que o desespero daquela mãe refletia a realidade da violência nas favelas do Rio.

Desespero? Não percebi desespero no rosto daquela mãe. O que percebi foi alivio. Desculpem-me aqueles que insistem em comprar simplesmente o que é vendido pela mídia, mas a analise poderia ser outra. Ao entregar seu filho a policia, aquela mãe marcou mais um “X” na opção  falência da instituição família. Há muito se discute a responsabilidade da educação dos nossos filhos. Somos pais da quantidade e não da qualidade. A sociedade brasileira há tempos vive dilacerada pela omissão das famílias, que preferem transferir a responsabilidade de educar seus filhos para a escola e para o Estado. É aqui que surgem aqueles movimentos que apóiam o Toque de Recolher e imposições judiciais e sociais cerceando a direito de ir e vir para crianças e adolescentes em várias cidades brasileiras.

Por que somente naquele momento, aquela mãe resolveu entregar seu filho a autoridade policial? Por que não o fez antes? Talvez porque até aquele momento aquela mãe também estivesse apoiando e vivendo do trafico. Resolveu entregar o filho para salva-lo da morte e não porque buscava a paz e justiça no morro. Onde estava aquela mãe enquanto seu filho era educado pelo crime organizado? Alguns dirão que é a situação é social, pois os pais necessitam trabalhar e não têm tempo para educar seus filhos. Eu prefiro defender a verdade.

Após acompanhar durante muitos anos bastidores de demandas na rede de atendimento a infância e adolescência, afirmo que são poucos os casos em que os pais perdem os filhos para o crime organizado por fatalidade. Na maioria das vezes são os próprios pais que empurram os filhos para a criminalidade.
São os pais que obrigam os filhos pequenos a mendigar em sinaleiras. São os pais que todos os dias batem e violentam seus filhos, obrigando ao trabalho escravo, a prostituição, ao trafico de drogas e a todo tipo de crime e exposição que deixa qualquer cidadão com um pouco de compaixão, horrorizado.

Quanto mais carente a comunidade, mais vulnerável e exposta ao crime. É isso mesmo? Nem sempre. A alta sociedade também é parte integrante deste problema. São os filhos de pais ricos que sustentam o crime organizado. São filhos da classe média que consomem todos os tipos de drogas aumentando dia a dia o submundo do crime. É o efeito dominó. Só há oferta, porque há demanda. E que demanda !
Sociólogos e antropólogos apontam por meio de pesquisas e estudos que investir em educação e em medidas preventivas é mais barato, e o que efetivamente daria resultado. As autoridades se apossam deste discurso e a sociedade concorda com aplausos. Experimente questionar o que ocorre na prática? O inverso.

Cada vez mais o Ministério da Justiça tem dificultado o repasse de verbas para projetos de prevenção. Os recursos públicos são liberados com base nas estatísticas de IDH e gráfico da violência. Na prática, o Estado e o Município só recebem recurso público depois de ter altos índices de violência. É preciso morrer muita gente, para que o Governo Federal carimbe verba para segurança pública. Que prevenção que nada! O negócio é deixar morrer. Quanto mais gente morrer, quanto mais traficantes e mais elevados os índices de criminalidade, mais elementos para promessas e verbas para as campanhas políticas.

E a família onde entra nisso tudo? A família é o alicerce que faz do cidadão um sujeito do bem. Se há corrupção, se as comunidades estão sem lideranças com boas intenções, se falta educação nas instituições e o sistema está podre, é na família que devemos formar pessoas de paz, de boa índole. São os pais que devem dar direcionamento aos filhos e cuidar do futuro das novas gerações. É importante a sociedade entender que não interessa ao sistema que o Brasil seja uma nação prospera e justa. Para determinados segmentos, quanto pior melhor. Então cabe a nós mudar a realidade, e o começo é a fortalecer a instituição família. Não devemos mais perguntar que Mundo estamos deixando para nossos filhos, e sim, que filhos estamos deixando para o Mundo.

Um comentário:

  1. ENQUANTO NÃO SE TRATAR A CAUSA, E OS GOVERNANTES PENSAREM EM "CUIDAR" APENAS DAS CONSEQUENCIAS, A SITUAÇÃO VAI CONTINUAR ASSIM POR MUITO TEMPO. É PRECISO INVESTIR NA EDUCAÇÃO. EM PROJETOS SOCIAIS DE PREVENÇÃO. E PRINCIPALMENTE É PRECISO POLÍTICOS SÉRIOS E ENGAJADOS NA CAUSA. ENQUANTO SE PENSAR MAIS NO PRÓPRIO BOLSO E NO "STATUS" E DEIXAR A POPULAÇÃO A DEUS DARÁ A SITUAÇÃO SÓ VAI PIORAR, PORQUE NÃO HÁ NADA TÃO RUIM QUE NÃO POSSA PIORAR. COMO DISSE O CAPITÃO NASCIMENTO EM TROPA DE ELITE II. O SISTEMA CUSTA CARO E SAI DO NOSSO BOLSO.

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